"Vou [morrer] de alma lavada. Estou feliz!"

"A herança que vou deixar são minhas idéias, que ninguém rouba, ninguém toma, ninguém compra."

Lucilia.

terça-feira, 20 de julho de 2010

A história de uma mulher que conviveu com Luiz Carlos Prestes

MGTV 1ª Edição, TV Integração, Uberaba,  19/jul/2010

Experiência de Lucília Soares Rosa vai virar livro escrito por jornalista de Uberaba


Uma mulher fascinante e que aos 97 anos, ainda muito lúcida, conta pelo que passou durante um dos períodos mais conturbados e negros da nossa política. Lucília Soares Rosa fala da experiência de conviver com Luiz Carlos Prestes, um dos principais comunistas da história do Brasil.

Filha de anarquistas, Lucília, hoje aos 97 anos, relembra a juventude, a vivência política dedicada à causa revolucionária. “A minha vida era bem vivida porque eu queria aprender o partido, porque eu era de partido, e não era uma mulher comum. Eu tenho compromisso com o partido. Quando o partido ia ter uma reunião séria e todas eram seríssimas. Eu não tinha marido para falar que eu não vou, você fica com os meninos que eu vou”, conta.

Pulso forte em várias situações. Em casa, com os filhos, o respeito era o mais importante. “Eles me obedeciam cegamente, eu sabia dar respeito, não tinha esse negócio de bater em filho e xingar, eu manobrava com habilidade mesmo, eles me obedeciam sem ser preciso estar xingando, batendo”.

E a convivência com Luiz Carlos Prestes marcou a vida política de Lucília. “Era muito simples, ele passava a maior parte do tempo nas casas de amigos fazendo trabalhos fechados. Na vez que eu fiquei com ele em São Paulo, pouco a gente tinha tempo de conversar porque ele era sobrecarregado de assunto sério. Ele tinha que estar sempre lendo. Ele me ouvia porque eu sabia governar e eu falava com a mulher dele que não tinha esse negócio porque ela era mulher dele que ela ia me dominar não, porque ela era atrasada, o jeito dela lidar batia com o meu também”.

Na época da ditadura no Brasil ela sofreu as consequências. Se mantia sempre muito bem informada do que acontecia no mundo. Naquele tempo era companheira de Anita Leocádia, filha de Luis Carlos Prestes com Olga Benário. Ajudava Anita e, principalmente, cuidava da segurança dela.

Talvez Lucília estivesse muito a frente das mulheres de seu tempo. Sempre sem ter medo das consequências ela não se contentava com pouco quando o motivo era lutar pelo comunismo. “Eu conversava com o chefe deles com consciência que eu estava conversando com o inimigo e nunca tive medo e então eles sabiam que eu não era brincadeira. E eu não tava brincando de comunismo não”, lembra.

A candidatura veio aos 35 anos. A primeira vereadora eleita em Minas Gerais na cidade de Campo Florido. De Lucília para Lucrécia, esse foi o nome que ela usou quando filiou ao partido. Nome de guerra e uma luta constante pelo comunismo. E não foram só flores. Também foi presa e apanhou tentando impedir que acabasse a democracia. “Eu nunca neguei na minha vida que eu não fosse comunista, tive presa, apanhei na cara”, conta.

Hoje, vivendo em um abrigo de idosos, se sente realizada por tudo o que fez, por todas as lutas que venceu na vida. “O mais importante é que eu cheguei ao fim da vida sem uma mancha no partido e eu sou conhecida internacionalmente”, diz.

A história de Lucília realmente é fascinante e agora vai virar livro. O jornalista Luiz Alberto Molinar reuniu documentos, fotos e muitas cartas. A princípio ele achou que ia gastar poucos meses, mas já são quase três anos de trabalho. O livro sobre Lucília Rosa Vermelha está em fase final. São 400 páginas de uma obra que deve ser publicada ainda este ano.

E não foi só na região que ela ficou conhecida, a fama da comunista vai muito além. “Descobrimos que o segundo partido anarquista do Brasil foi fundado em Uberaba, encontramos isso na Holanda, em um jornal que foi preservado e que tem uma cópia em Campinas”, conta Luiz Alberto.

O livro faz parte do projeto de comemoração dos 170 anos da Câmara Municipal de Uberaba e deve ficar disponível nas bibliotecas da região por onde ela passou.

http://megaminas.globo.com/2010/07/19/a-historia-de-uma-mulher-que-conviveu-com-luiz-carlos-prestes