"A herança que vou deixar são minhas idéias, que ninguém rouba, ninguém toma, ninguém compra."
Lucilia.
segunda-feira, 16 de abril de 2012
Homenageando Lucilia e divulgando o livro"Lucília – Rosa Vermelha", em Belo Horizonte
Homenageando Lucilia e divulgando o livro"Lucília – Rosa Vermelha", em Belo Horizonte.
12 de abril, às 20h, na Assembleia Legislativa, durante sessão solene de homenagem aos 90 anos do PC do B.
Lucilia, a Rosa vermelha. Filha de anarquista. Não foi batizada na igreja. Nunca pintou as unhas e nem se maquiou. Namorou muitos. Dois primos a pediram em casamento. Foi costureira de vestido de noiva. Casou por contrato com homem casado. Foi professora, faxineira, doméstica e cozinheira de 'mão cheia'. Ateia desde criancinha. Espiritualista aos 90 anos: "Há algo mais. Eu não acredito em Deus, mas alguns amigos acreditam e eu acredito neles". O Capital foi sua cartilha durante décadas, mas agora gosta que leiam a Bíblia para ela. Dedicou toda sua vida à causa revolucionária. Lutou por uma sociedade justa para todos. Comunista convicta. Lucilia significa solidariedade, sinceridade. Disciplinadora, porém doce, amável, às vezes, até angelical. Gosta muito de conversar. De contar causos seus e dos outros. Todos sem censura. Visite dona Lucilia! Leve biscoito, chocolate, alegria, uma fruta, carinho... Casa do Idoso Cantinho da Paz, Amor, Caridade e Fé, na rua Segismundo Mendes, próximo à praça do Grupo Brasil, bairro Estados Unidos, Uberaba (MG).
A herança que vou deixar são minhas idéias, que ninguém rouba, ninguém toma, ninguém compra.
Lutei muito, sempre fazendo uma política sadia, séria, mas os grandes não respeitaram os comunistas. Apanhei e apanhei na cadeia com ponta-pés de coronéis e latifundiários.
Desde muito nova, fui sempre uma inimiga visceral das injustiças.
Filiei ao PC no fim da ditadura Vargas, uma hora na legalidade outra na clandestinidade, mas fui sempre comunista.
O MST é o movimento da minha paixão. Eu sempre adorei o mato.
Tive dois filhos, depois liguei as trompas com Dr. Shimidt e sempre cantei de galo na minha casa.
Quando me convidam para certos saraus burgueses não vou lá. A gente tem que fazer uma distinção entre a mulher burguesa e a mulher proletária.
Nunca tive medo, não. Se o marido falava e ameaçava de ir embora, eu respondia que podia ir, não vou morrer de fome, não, por falta de homem.
Apanhei muito de um delegado de Uberlândia. Ele queria que eu chorasse. Eu pensava: quero mostrar a esse canalha que mulher comunista é assim.
O Velho (referência carinhosa com que trata Luiz Carlos Prestes) é outra paixão da minha vida. Foi um inigualável. Só daqui a mil anos para aparecer outro.
Trabalhei na casa dele (Prestes), convivi com ele... Só quem o sentiu assim de perto sabe da sua grandeza, da capacidade que aquele Velho tinha na cabeça.
Minha cultura comunista não me dá o direito de explorar o mínimo que seja do direito do outro.
Política é a arte do possível, de modificar a sociedade para melhor.
Vamos à luta! Avante, homens e mulheres, contra essa exploração do capital contra o trabalho.
Você apanha, mas você vive, vive não, vibra. Apanhei do Delegado por que defendia o não envio de tropas brasileiras para a Coreia.
Minha vida de empregada doméstica foi o melhor momento da minha vida, porque aprendi muito, lia todos os dias o Estadão. Lia, lia, lia...
Vejo no PT uma saída para as minhas ideias. Um pedacinho de chão para lançar minhas ideias do marxismo.
Ser comunista é sofrer o cárcere e sair de lá sem ódio e sem rancores.
Gente, eu era custosa mesmo... Eu era! E o mulherio aprendeu muito comigo... Eu ajudei muita mulher a abrir a cabeça. Aqueles maridos de lá [Campo Florido], não me olhavam com bons olhos, não.
Eu tenho gênio ruim mesmo, pode falar que eu não estou nem aí! Desde que me tornei comunista, fui me aprofundando cada vez mais, fui ficando intransigente e nunca calei.
Se você fica em casa passando, lavando... a vida passa. Se você vai pra rua mudar o mundo, é cada cacetada...
Eu me sinto bem por um lado, mas infeliz pelas contradições. A vida é uma contradição diária.
É d-o-n-a L-u-c-i-l-i-a! Não é qualquer Lucilia.
O tempo não repousa... O tempo não retorna...
Até os 80 anos, eu era assim: Deus quer, eu faço! Ele não quer, eu faço!
Ensinei meus filhos a serem independentes: costuram, passam, cozinham...
Comunista não faz caridade. Ele tenta ajudar a pessoa a abrir a cabeça.
Sou um tipo diferente. Não tem conversa!
O trabalho não é gostar, é costume. [Sobre a disposição e necessidade de trabalhar]
Tenho aversão à crueldade.
Desgraçado do veneno do dinheiro...
Não sei se é espírito ou o cérebro: estou caçando um jeito de descobrir o que é que me governa.
A comunista aqui pensa assim!
A gente não é doida, a gente é comunista.
A gente chega à velhice com certa alegria.
Não sou batizada e não vou batizar.
Minha alma é mais do que limpa.
Zíper alemão, que é o bom, na boca. Nem na cozinha a gente conversava. [Postura de quando trabalhava como doméstica, em São Paulo]
Não admitia imagem de santo em casa.
Não tem filho, não tem pai, não tem ninguém que me segure. [Sobre os seus princípios comunistas]
O primeiro que está em pauta em minha vida são os meus ideais.
Um pequeno gesto, a caminhada até uma reunião, distribuir um jornal. É uma pequena arruela que faz funcionar uma grande máquina.
No processo da luta é que você aprende a lutar.
Eu apanho, mas que eu dou trabalho, eu dou!
O dinheiro seduz as pessoas...
Vou pecar e sapecar!
Eu falo... e quando eu começo a falar, eu não paro, não paro! Eu grito, eu xingo, eu faço o que posso.
Se a gente tivesse tempo e dinheiro para ler...
Sou firme nos meus pensamentos. Se tiver que mudar, vou estudar.
Sou chique, gosto de música clássica.
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