"Vou [morrer] de alma lavada. Estou feliz!"

"A herança que vou deixar são minhas idéias, que ninguém rouba, ninguém toma, ninguém compra."

Lucilia.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Jovem Lucilia (II)

Jornal da Manhã, Uberaba, 24/dez/2004
Livro Perfis especiais - feitos e méritos, 2009
João Eurípedes Sabino

Então, continuando sobre a jovem Lucilia Soares Rosa, a quem abordei na última semana, a sensação que me ocorre é a de não parar quando tento descrevê-la. Permito-me aqui dizer que comprovei algo dito a mim, certa vez, sobre os seres irrequietos; eles não são “chegados” em colocar quadros nas paredes. A sala de Lucilia, na Avenida Alexandre Barbosa, nº 95, é despida de figuras ou adorações. Será por quê?

Ah, se tivéssemos mais algumas Lucilias por estes brasis! Em sua fala, está vivo o aconselhamento leninista: “Vamos botar fogo na fogueira e ter paciência revolucionária”. Quando vejo a letargia dos nossos governantes comparada ao pensamento de Lucilia (ela, apesar da idade, dispensa a ajuda de auxiliares), concluo comigo: Aquela mulher é superdimensionada para o seu tempo, e nós estamos deixando-a passar. É digna de um documentário.

Ao saber que a colega articulista Marta Zedinick de Casanova tem uma monografia extensa sobre Lucilia Soares Rosa – diga-se – sem o apoio oficial, reforça-me a tese de que as iniciativas de reconhecimento brotam naturalmente de um lado quando o verdadeiro merecimento está do outro.

É difícil falar de Lucilia, sem lembrar alguns dos seus feitos e posicionamentos. Por exemplo: ela sofre, mesmo à distância, ao ver o sofrimento de alguém conhecido ou não. Lembrou aí quanto padecem os pais dos jogadores Serginho e Júnior que tiveram mortes súbitas em campos de futebol. O fato de o motorista particular de Carlos Prestes não entender nadinha de política lhe causava, como revolucionária, profunda tristeza. A entrega de Olga Benário às forças alemãs não lhe sai do pensamento. Sempre refletiu e reflete ainda consigo: - “Por quê? Logo eu, uma mocinha do interior, ter as ideias que sempre tive e tenho? Sinto-me uma premiada”.

Fui ousado em perguntar-lhe sobre o porquê de existirem os sofridos andarilhos nas estradas. Respondeu-me: - “Tudo isso é fruto da acumulação de capital”. “Os traumas ocorrem pelo capital”. No fundo, lá... no fundo... Lucilia está certa; é só mergulharmos fundo na sua resposta.

Com a memória que substitui uma agenda, confidenciou-me: - “Esqueço-me literalmente de que não estou longe de partir, mas lembro-me sempre de que a vida continua”. Uma filósofa na concepção do termo.

Os filhos Moysés Soares Rosa e Calixto Rosa Neto, junto aos netos e bisnetos, compõem o dínamo que a impulsiona.

Lucilia não envelhece. Ela continuará sempre jovem.

João Eurípedes Sabino é engenheiro civil, presidente do Fórum Permanente dos Articulistas de Uberaba e Região e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

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